31 março, 2009

nitidez


Na nitidez da realidade, impõe-se seguir o impulso da coragem.
Da coragem de sentir e de viver. Sem esperar mais.
Admitindo os mistérios que nunca se resolverão,
combatendo as fragilidades inevitáveis,
fecho os olhos com força, para depois os abrir, determinada.
Respiro. O momento, a vida e a liberdade de poder sonhar.
A vida apresenta-se tão cheia de palavras impossíveis...

27 março, 2009

luz


Hoje, quero sentir esta luz e sorrir!

25 março, 2009

Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão,
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela.
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.


Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis.
Isso que comeis
Não são ervas, não,
São graças dos olhos
Do meu coração.


Luís de Camões

24 março, 2009

vontade

Presiste a vontade de partir.
Sempre!
Partir sem rumo...
Esta viagem é uma certeza, que apenas se vai adiando!
As nuvens afastarão a noite e numa mágica madrugada, partirei por entre raios de sol.
Soltarei as velas. Abertas ao vento.
Que levará todos os pensamentos, todas as angústias e incertezas.
O horizonte não terá limites. Serei livre em cada respiração.
Ancorarei num porto e numa praia deserta. Em todos os lados!
Não temo a tempestade, nem o mar revolto.
Nem o silêncio nem a saudade.
Apenas temo, nunca vir a conhecer-te!

22 março, 2009

o meu jardim


No meu jardim Secreto, só entro eu!
Ando, descalça!
Dispo-me de tudo!
De palavras, de medos e de pensamentos!
Tem, cores fortes. Só minhas!
Caminhos, sem direcção, que só eu conheço!
Jardim onde danço, canto e sinto. Livre!
As luzes e os reflexos, surpreendem-me.
Porque são uma constante!
Assim como as estrelas!
Neste jardim não me sinto só!
Aqui confronto-me e sossego-me!
Aqui, sorrio de esperança,
pela descoberta que todos os dias,
faço de mim e do mundo.
Consigo juntar todos os pedaços espalhados de mim,
porque me desafio e surpreendo!
Porque sou!
No meu jardim e fora dele!

19 março, 2009

Tudo era claro


Tudo era claro:

céu, lábios, areias.

O mar estava perto,

Fremente de espumas.

Corpos ou ondas:

iam, vinham, iam,

dóceis, leves, só

alma e brancura.

Felizes, cantam;

serenos, dormem;

despertos, amam,

exaltam o silêncio.

Tudo era claro,

jovem, alado.

O mar estava perto,

puríssimo, doirado.


Eugénio de Andrade

18 março, 2009

concretamente


Com a mente demasiado pesada e sombria.
Tentei não sucumbir ao desespero e procurei a solução na rendição do corpo.
Na exaustão pelo prazer. Puro prazer.
Entreguei-me inconsequentemente a um devaneio luxuriante. Deixei cair todas as mascaras.
Dei tudo!
Sem palavras, sem medo, sem me esconder.
Permiti que tomasses o meu corpo em quentes e sensuais carícias, que me torturaram a pele. Os longos e estonteantes beijos, fizeram-me perder a razão e a noção do resto do mundo.
Abandonei-me à necessidade urgente e primitiva que me trespassou os sentidos, despedaçando-os cruelmente.
Corpos suados, que se agarraram e invadiram até à alma, numa extenuante luta de dádivas e exigências.
Esgotei-me numa excitação delirante e libertadora.
Esta descontrolada loucura dos sentidos fez-me sentir viva, brutalmente viva!!

16 março, 2009

tanto


Vivo na periferia dos meus sonhos, que se vão revelando nos olhares que de quando em vez fixo em mim própria.
Os desejos e vontades inscritos na minha pele. Provocam-me. Enviam-me sinais de alerta.
Sinto-me despida de tudo.
Culpo o tempo e a distância.
Fico em espera.
Com a voz presa numa inquietação que me desassossega. Que me impede de gritar. Dizer o quanto preciso. De ti!

11 março, 2009

hoje

Hoje!
É uma dádiva!
Que celebro com esta flor!

10 março, 2009

folha branca


Palavras que denunciam, medos. Exageradamente.
Revelam carências. Corajosamente.
Incendeiam desejos e vontades. Ousadamente.
As palavras despem-me o espirito. Descaradamente.
Expoem-me nos silêncios. Discretamente.
Palavras que são uma fuga. Um grito. Um pedido de socorro.
Palavras que se desprendem, inconscientemente de mim.
De procura e descoberta. Incertas.
Palavras que se gravam num folha branca em mim e na pedra.
Que me permitem, ser mar, campo e deserto.
Preenchem e completam assim como
me esvaziam e omitem.
Palavras que libertam a minha revolta.
Perturbam e intimidam.
Atraem-me e seduzem-me.
Palavras que significam tudo... as que espero...
... um dia...
poder dizer!

08 março, 2009

mar azul


São tantas as marés que vão e vêm. Resistem às tempestades.
Terriveis e assustadoras.
Que passam.
Depois a calma, o silêncio, renovador.
O voo plano da gaivota. Libertador.
A maré de hoje, abriu uma nova janela em mim.
O mar, guardião da minha alma. Apresenta-se azul, limpido. Transparente.
Sei-te perto de mim. Sei que estás aí. Sei porque te olho, no mar.

06 março, 2009

O medo

"...pouco mais há a dizer, caminho largando os últimos resíduos da memória. Fragmentos de noite escritos com o coração a pressentir as catástrofes do mundo. A grande solidão é um lugar branco povoado de mitos, de tristezas e de alegria. Mas estou quase sempre triste. Algumas fotografias revelam-me que noutros lugares já estivera triste, por exemplo, no fundo deste poço vi inclinar-se a sombra adolescente que fui. Água lunar, canaviais, luminosos escaravelhos. Este sol queimando a pele das plantas. caminho pelos textos e reparo em tudo isto. o que começo deixo inacabado, como deixarei a vida, tenho a certeza, inacabada. O mundo pertenceu-me, a memória revela-me essa herança, esse bem. Hoje, apenas sinto o vento reacender feridas, nada possuo, nem sequer o sofrimento. Outra memória vai tomando forma, assusta-me. ainda quase nada aconteceu e já envelheci tanto. Um jogo de estilhaços é tudo o que possuo, a memória que vem ainda não tem a dor dentro dela. As fotografias e os textos, teu rosto, poderiam projectar-me para um futuro mais feliz, ou contarem-me os desastres dos recomeçados regressos. Mas, quando mais tarde conseguir reparar que a vida vibrou em mim, um instante, terei a certeza de que nada daquilo me pertenceu. Nem mesmo a vida, nenhuma morte, na mesma posição, reclinado sobre meu frágil corpo, recomeço a escrever, estou de novo ocupado em esquecer-me. A escrita é precária morada para o vaguear do coração. Resta-me a perturbação de ter atravessado os dias, humildemente, sem queixumes. Anoitece ou amanhece, tanto faz."

Al Berto, O Medo

04 março, 2009

lá fora


Lá fora, um mundo. Luz. Histórias por viver. Para contar.
Lá fora, um tempo. Um sonho.
Lá fora, o mar. Muitas marés.
Uma realidade imperfeita, feita à medida exacta.
Lá fora, procuro-me.